17 de nov. de 2010

Um encontro com o Papai Noel

Os bastidores do jornalismo, as angústias dos profissionais, os obstáculos que precisam enfrentar para que o material circule na mídia, questões como essas raramente vêm à tona. Mas existem reportagens que possuem entre os principais atrativos não simplesmente o produto final, sua magia está no antes. Sempre gostei de imaginar como serão os entrevistados. Um contato prévio por telefone para marcar a entrevista, pedir o endereço e confirmar o nome da fonte, já bastam para que uma imagem já se forme em minha cabeça.

Ao descobrir que o entrevistado para a pauta atendia por “Barba”, não precisei de muita coisa, prontamente construí a imagem de um homem de meia idade, cabelos grisalhos e uma barba enorme, daquelas que só se vê em Papai Noel. Entrevista marcada para as 13:30 de uma segunda-feira chuvosa. Um endereço pouco conhecido e a ajuda de um mapa para resolver a situação. Três a quatro pessoas consultadas pelo caminho para descobrir onde ficava a tal rua, com nome de escritor renomado da literatura brasileira. Entretanto Machado de Assis me pregou uma peça! Percebi que não conseguiria chegar ao local da entrevista e começou a bater o desespero... O que fazer? A hora passando e nada de respostas...

O velho ditado, por mais “batido” que possa parecer, até hoje sempre caiu bem: “Quem tem boca vai a Roma”. Nesse caso, quem tem boca conseguiu, depois de buscar a ajuda certa, chegar ao Barba. No escritório do produtor da banda Passarela e proprietário de um dos maiores clubes de baile da cidade, procurei pela sala alguém que se encaixasse na figura que eu havia construído. Uma moça muito simpática veio me receber na porta, já sabia quem eu era. Atrás de uma grande mesa marrom com detalhes em branco avistei um homem de vermelho com a cuia de chimarrão na mão. A moça nos apresentou e prontamente indaguei sorrindo: “Cadê a barba”. O homem respondeu com um sorriso meio sem graça, como se tivesse perdido sua principal característica há pouco tempo e ainda não estivesse acostumado à nova figura.

Poucas palavras, muita simpatia. Será possível construir o passado de alguém sem ter visto essa pessoa antes? Uma sensação estranha, mas tive a impressão de que o homem que estava em minha frente já tinha lutado muito por seus sonhos. Não me enganei! “Se a Banda Passarela chegou aonde chegou muito se deve ao Barba”, declara o vocalista da banda.

A banda surgiu há 15 anos, quando Iseu (o Barba) e Dirceu decidiram que era chegada a hora de se lançarem no mercado. Como todo o começo, o da banda Passarela também não foi fácil, “mas graças a Deus conseguimos alcançar o sucesso em pouco tempo”, complementa o vocalista. Hoje, Barba já não faz mais parte da composição da banda, ele e Dirceu eram os trompetistas “a velhice está chegando, parei de viajar e comecei a trabalhar com eventos, bailes, e surgiu a oportunidade do Clube de Pedra Show”, desabafa Iseu, com ar de quem sente saudades de estar nos palcos, mas que de certa forma encontrou um jeito de nunca se afastar deles.


Barba de "cara limpa" concede entrevista à Aline Vogt
Ele não gosta de falar muito, ao final da entrevista pergunto: “O senhor deseja fazer mais alguma consideração?”, Barba responde com um sorriso meio sem graça “Não moça, acho que já falei até demais”. Vaidoso, pede um tempo para arrumar o cabelo antes da foto.
Aline Vogt




1 comentários:

Giovana disse...

Parabéns pela crônica...
Ao ler o nome imagina-se algo diferente,
como você cita na crônica ao escutarmos um nome logo formamos uma imagem mental, que as vezes é diferente da realidade.
Gostei muito da sua crônica e de saber como foi formada essa banda que é tão popular em nossa cidade e que este é um dos grandes responsáveis pela sua formação.

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