18 de nov. de 2010

Seleção de músicas sobre o doce amargo dos gaúchos


  1. Cevando o amargo - Wilson Paim,
  2. Vire o mate - Manolo,
  3. Mateando - Jaime Caetano Braun,
  4. Chimarrão - Os Monarcas,
  5. Mateando com mamãe - Odilon Ramos,
  6. Cada gole desse mate - Jorge Freitas.
Lembra aquelas cuias revestidas de couro? É comum encontrar uma poesia pirografada nelas. Mas é apenas uma parte. Enquanto você ouve o playlist da semana confira na íntegra uma das mais populares poesias sobre o tema.

Chimarrão de Glaucus Saraiva: 

Amargo doce que eu sorvo
Num beijo em lábios de prata.
Tens o perfume da mata
Molhada pelo sereno.
E a cuia, seio moreno,
Que passa de mão em mão
Traduz, no meu chimarrão,

Em sua simplicidade,
A velha hospitalidade
Da gente do meu rincão.

Trazes à minha lembrança,
Neste teu sabor selvagem,
A mística beberagem,
Do feiticeiro charrua,
E o perfil da lança nua,
Encravada na coxilha,
Apontando firme a trilha,

Por onde rolou a história,
Empoeirada de glórias,
De tradição farroupilha.

Em teus últimos arrancos,
Ao ronco do teu findar,
Ouço um potro a corcovear,
Na imensidão deste pampa,
E em minha mente se estampa,
Reboando nos confins ,
A voz febril dos clarins,
Repinicando: "Avançar"!
E então eu fico a pensar,
Apertando o lábio, assim,
Que o amargo está no fim,
E a seiva forte que eu sinto,
É o sangue de trinta e cinco, Que volta verde pra mim.

Imagen: casanaturalista.blogspot.com


17 de nov. de 2010

Joselaine Radim conta como foi o seu primeiro baile

Aqui você confere a história da primeira vez em um baile de Joselaine Radin. Ela contou tudinho a repórter Daniela Balkau. Clique e escute.


Um encontro com o Papai Noel

Os bastidores do jornalismo, as angústias dos profissionais, os obstáculos que precisam enfrentar para que o material circule na mídia, questões como essas raramente vêm à tona. Mas existem reportagens que possuem entre os principais atrativos não simplesmente o produto final, sua magia está no antes. Sempre gostei de imaginar como serão os entrevistados. Um contato prévio por telefone para marcar a entrevista, pedir o endereço e confirmar o nome da fonte, já bastam para que uma imagem já se forme em minha cabeça.

Ao descobrir que o entrevistado para a pauta atendia por “Barba”, não precisei de muita coisa, prontamente construí a imagem de um homem de meia idade, cabelos grisalhos e uma barba enorme, daquelas que só se vê em Papai Noel. Entrevista marcada para as 13:30 de uma segunda-feira chuvosa. Um endereço pouco conhecido e a ajuda de um mapa para resolver a situação. Três a quatro pessoas consultadas pelo caminho para descobrir onde ficava a tal rua, com nome de escritor renomado da literatura brasileira. Entretanto Machado de Assis me pregou uma peça! Percebi que não conseguiria chegar ao local da entrevista e começou a bater o desespero... O que fazer? A hora passando e nada de respostas...

O velho ditado, por mais “batido” que possa parecer, até hoje sempre caiu bem: “Quem tem boca vai a Roma”. Nesse caso, quem tem boca conseguiu, depois de buscar a ajuda certa, chegar ao Barba. No escritório do produtor da banda Passarela e proprietário de um dos maiores clubes de baile da cidade, procurei pela sala alguém que se encaixasse na figura que eu havia construído. Uma moça muito simpática veio me receber na porta, já sabia quem eu era. Atrás de uma grande mesa marrom com detalhes em branco avistei um homem de vermelho com a cuia de chimarrão na mão. A moça nos apresentou e prontamente indaguei sorrindo: “Cadê a barba”. O homem respondeu com um sorriso meio sem graça, como se tivesse perdido sua principal característica há pouco tempo e ainda não estivesse acostumado à nova figura.

Poucas palavras, muita simpatia. Será possível construir o passado de alguém sem ter visto essa pessoa antes? Uma sensação estranha, mas tive a impressão de que o homem que estava em minha frente já tinha lutado muito por seus sonhos. Não me enganei! “Se a Banda Passarela chegou aonde chegou muito se deve ao Barba”, declara o vocalista da banda.

A banda surgiu há 15 anos, quando Iseu (o Barba) e Dirceu decidiram que era chegada a hora de se lançarem no mercado. Como todo o começo, o da banda Passarela também não foi fácil, “mas graças a Deus conseguimos alcançar o sucesso em pouco tempo”, complementa o vocalista. Hoje, Barba já não faz mais parte da composição da banda, ele e Dirceu eram os trompetistas “a velhice está chegando, parei de viajar e comecei a trabalhar com eventos, bailes, e surgiu a oportunidade do Clube de Pedra Show”, desabafa Iseu, com ar de quem sente saudades de estar nos palcos, mas que de certa forma encontrou um jeito de nunca se afastar deles.


Barba de "cara limpa" concede entrevista à Aline Vogt
Ele não gosta de falar muito, ao final da entrevista pergunto: “O senhor deseja fazer mais alguma consideração?”, Barba responde com um sorriso meio sem graça “Não moça, acho que já falei até demais”. Vaidoso, pede um tempo para arrumar o cabelo antes da foto.
Aline Vogt




Casamento da Frida e do Fritz

Depois de três anos interpretando juntos o Fritz e a Frida da Oktoberfest de Doutor Maurício Cardoso, eles descobriram que o amor era real e não apenas um faz de conta. O resultado foi o casamento em 25 de setembro de 2010.

A palavra Frida é um nome teutônico e significa “a que protege”. Todos os anos ela usa vestimentas alemãs e anima os participantes da festa. Nos 24 anos a Oktoberfest contou com três Fritz (figura conhecida por ser companheiro folclórico da Frida), mas com último, surgiu uma história de amor e companheirismo.



Fotos que ilustram a postagem fazem parte do arquivo pessoal de Claci Saueressig

Entrevista exclusiva com o cantor e compositor Vanderlei Rodrigo

O compositor da música de maior sucesso da banda Passarela “Bar da Esquina” conta de onde veio a inspiração para a letra, quem foi a primeira pessoa a escutar e o porquê de ter escolhido a banda Passarela para gravar a canção.

Repórter: Aline Vogt

1) Repórter: De onde veio a inspiração para a letra "Bar da esquina"?
Vanderlei Rodrigo: Esta letra tem um pouco de um poema, misturada com fatos reais, fala de pessoas apaixonadas.

2) Repórter: Foi fácil de escrever esta letra? 
Vanderlei Rodrigo: foi difícil e bastante demorado... Brincadeira acredito que levei aproximadamente uns 5 minutos para escrever.

3) Repórter: Você se inspirou em alguém ou em si próprio?
Vanderlei Rodrigo: A inspiração vem de pessoas que vemos passarem por paixões mal resolvidas.

4) Repórter: Quem foi a primeira pessoa a ouvir?
Vanderlei Rodrigo: A minha esposa.

5) Repórter: Lembra qual foi a reação dela?
Vanderlei Rodrigo: Não gostou nem um pouquinho...

6) Repórter: Você imaginava que a música faria tanto sucesso?
Vanderlei Rodrigo: Sim porque eu sinto na pele quando a música é de letra e melodia forte.

7) Repórter: O que você sente quando ouve a música nas rádios?
Vanderlei Rodrigo: Me sinto feliz como compositor, tenho aproximadamente 400 músicas de minha autoria rodando pelo Brasil e pelo mundo...

8) Repórter: Já presenciou a recepção da música em algum show? Como foi?
Vanderlei Rodrigo: É maravilhoso ver o povo cantando as músicas que a gente faz com tanto carinho, e que na verdade, são escritas para eles.

9) Repórter: Por que escolheu a banda Passarela para gravar a música? Vanderlei Rodrigo: Por ser um amigo do produtor, o Barba. Dei a letra para eles porque achei que eles mereciam fazer sucesso.



Vanderlei Rodrigo é cantor e compositor. Atualmente, é vocalista da banda Vanderlei Rodrigo e banda catchaca.

16 de nov. de 2010

Confira a reportagem sobre a Banda Passarela e um vídeo com o Luciano que canta "Doido Maluco"

A história da Banda Passarela se confunde com os sonhos de seus idealizadores. Na reportagem de Aline Vogt você conhece um pouco mais sobre esta banda que já faz parte da história dos bailes. Para saber mais, acesse a entrevista exclusiva com Vanderlei Rodrigo, que é o compositor da música de maior sucesso da banda Passarela, “Bar da Esquina”.

Luciano da Banda Passarela canta "Doido, Maluco"

11 de nov. de 2010

Meio século de bailado: uma lista musical histórica

Ouça a seleção da semana e compreenda as diferenças técnicas e culturais do estilo musical, que hoje, chamamos de bandinha.

Compreenda a relação dos dobrados militares com as músicas dos bailes do sul do Brasil. Os integrantes das bandas e orquestras afirmam que sempre tocaram ritmos variados, porém, ao investigar a história das bandas constatamos que as variações das marchas e os dos dobrados se destacavam pelo forte apelo popular.


01 - Dobrados - Maéstro Batista de Mello
02 - Paquito el chocolatero - Um Pasodoble composto por Gustavo Pascual Falcó
03 - Dobrado - Os Futuristas, composição de Harry Zillmer
04 - Morena de 15 anos - Execução da Orquestra Os Montanari
05 - Maria Tchá Tchá Tchá - Banda Terceira Dimensão, composição de Flávio Dalcin
06 - La Verginela (1971) - Os Montanari
07 - Dobrado Silvino Rodrigues - Banda Chopão
08 - Chopp na Veia - Banda Cosmo Express
09 - Agora sou mais eu - Banda Passarela
10 - Jogo do amor - Banda Movimentos
11 - Quilómetro 11 - Os Futuristas, composição de Mario del Tránsito Cocomorola
12 - Já dissemos adeus - Banda Corpo e Alma, composição de Flávio Dalcin
13 - A 150 por minuto - Banda Os Atuais
14 - Craque do piston - do Primeiro disco da Banda San Marino
15 - Alice - Banda Os Atuais
16 - Morena de 15 anos - Os Atuais (com características da música comercial da época a Banda Os Atuais inseriu letra na música e ganhou o gosto popular).
17 - 24 horas - Música nova da Banda Cosmo Express

De olho na história - em busca da banda Os Futuristas

Breno Schneider e seu bandonion no parque da Expoijuí, RS.
Acompanhe os bastidores da reportagem "De ouvido na história". Antonio Marcos foi a cidade de Ijuí, RS, para encontrar integrantes da banda "Os Futuristas".
Na foto, Breno Schneider toca bandonion. Schneider também concedeu uma entrevista, falando de músicas que ajudaram a construir a história da banda. Pegue carona e conheça parte da diversidade cultural que é preservada na cidade.

10 de nov. de 2010

Dia e hora certa da festança! Confira a agenda completa das festas da região


  • Em Caiçara, RS, a banda Cosmo Express toca no dia 19 de novembro.
  • Em Três Passos no dia 27 de novembro, a banda Terceira Dimensão anima o baile do Clube Ipiranga. No dia 28 toca em Carlos Barbosa no clube da cidade.
  • A banda Ramal toca no dia 20 de novembro em Humaitá, Santa Catarina. No dia 21 de novembro, a banda Ramal toca na Barra do Guarita e no dia 26 em Frederico Westphalen.
  • Banda Pérola negra toca no dia 20 de novembro em Trindade do Sul. No dia 21,  em Caibi Santa Catarina, e no dia 29 na Cia do Chopp em Chapecó.
  • A banda Indústria Musical toca no dia 20 de novembro, na Fenamilho em  Santo Ângelo. No dia 27 irá animar o baile  no salão paroquial de Liberato Salzano.

7 de nov. de 2010

Por acaso

Quem nunca ouviu, ou mesmo, até já usou no decorrer da vida a seguinte expressão: “nada acontece por acaso”. Acredita-se que praticamente todas as pessoas, desde crianças até a terceira idade, já passaram por alguma situação em que esse ditado popular tenha sido dito ou lembrado em pensamento.
Ás vezes, um dinheiro perdido encontrado no guarda-roupa e no mesmo dia, há uma conta de luz a pagar. Uma prova em dupla, quando era necessária uma nota 10 e, sozinha, nunca teria condições. A visita de um parente distante que não via há muito tempo, mas, que na noite passada lembrou em seus sonhos. Pois é, essas situações parecem estranhas, mas acontecem mesmo.
Comigo acontece seguidamente casos semelhantes. Quando menos espero ou procuro, simplesmente ocorrem. Fui ao dentista, logo depois, pagar umas contas. Neste caminho, por acaso, encontro uma senhora que ouve a conversa minha com uma amiga.
Adivinham o que estávamos conversando? Isso mesmo, sobre TCC e mais: preciso encontrar uma pessoa mais velha que fale sobre a sua primeira vez em um baile. Acreditem: uma senhora parou do meu lado e começou contar. Entusiasmou-se. Foi muito engraçado, mas, quando pedi para gravar, ele simplesmente disse: Ai, minha menina, eu não levo jeito pra isso. Mas eu conheço alguém que fala, é a Dona Nilda. Ela mora logo ali. Vai lá.
Lá fui eu. De cara lavada mesmo. Bem tranqüila bati na porta. Me apresentei como estudante de Jornalismo. Contei quem havia me falado dela. Abriu a porta e pasmem: Me recebeu muito bem e contou a sua história, sem devaneios.
Pois bem, esse ditado eu posso afirmar que na minha vida ocorre mesmo. E sei que nessa história de TCC, muita coisa acontece mesmo.

Repórter: Daniela Dalkau

Belos tempos com a Vovó Nilda

Confira nesta seção algumas fotos da vida de Nilda Geiss, além de uma foto histórica da banda que tocava quando tinha apenas 14 anos – Banda Jazz Havaí. Ouça também a entrevista ampliada concedida a repórter Daniela Balkau.
Vovó Nilda. Assim ela é conhecida na cidade de Tuparendi, interior do estado do Rio Grande do Sul. Nesta cidade calma e pacata, essa mulher de 83 anos vive tranqüila e feliz. Mas, nem sempre foi assim.

O que mais gostava era ir aos bailes no interior da cidade, até que seu marido faleceu e por muitos anos deixou de freqüentá-los porque se sentia sozinha. Hoje, vovó Nilda voltou às festas. Freqüenta os bailes do grupo da Terceira Idade – Grupo Conviver, de Tuparendi. Não perde um, só mesmo quando está doente. Nos últimos três anos recebe a faixa de vovó Simpatia e se orgulha muito dessa conquista.

Grandes foram as suas dificuldades. Desde cedo teve que trabalhar para ajudar no sustento da família. Assim, passaram-se os anos. Casou-se, cuidou do marido e da casa e, nunca deixou de se divertir.

Banda Jazz Havaí de Tuparendi

1 de nov. de 2010

O caldeirão cultural e o caldo da cultura

Bailes, colonização e a música popular sul brasileira: uma história musical de meio século.

Conheça a história do estilo musical que firmou raízes no solo sul brasileiro. Recém nascida sem nome e sem raça, cultivada em pouco mais de meio século. Odiada por uns e amada por outros.

Alimentada pela seiva da miscigenação racial dos povos que colonizaram a região noroeste do Rio Grande do Sul, parte de Santa Catarina e Paraná. Plantada nas festas de kerb’s e nos bailes do final de semana.

No princípio executada por orquestras em que as músicas folclóricas e os ritmos clássicos serviam de referência. Com o passar do tempo foi adotada por bandas que mudaram sua composição instrumental, e o rádio exerceu influência no estilo. Nos anos 70 incorporou elementos dos boleros mexicanos e do “pop romântico”.

Porém, algo mantinha sua essência, o baile do final de semana e o modo de dançar dos colonos que imigraram para o sul do Brasil. Depois do suado trabalho agrícola, se encontravam nos bailes para esquecer a rotina e cair na festança. O resultado é a música popular do sul do Brasil, que na metade dos anos 90, alcançou maioridade com sistema de produção e distribuição independente.

A origem

Sexta à noite depois de semanas enchendo vidros e mais vidros com conservas de pepino, chuchu e cenoura, filhos e filhas dos imigrantes nascidos no sul do Brasil, escutavam ao longe o ritmo de um baixo acústico, violões e metais que rompia o silêncio da zona rural e a escuridão de suas noites.

O som peculiar do bandonión e do violino anunciava o início da festa. No salão lampiões a querosene iluminavam casais que num misto de chamamé, polca e rancheira, rodopiavam e se perdiam na escuridão, ritmados em sua maioria, por um compasso binário ou ternário ditado pelas orquestras da época.

Eram as festas de kerb’s no sul do Brasil. No dia da santa padroeira da comunidade famílias inteiras de imigrantes alemães, italianos, portugueses e poloneses, se misturavam durante três dias de festa.

A música era executada com entusiasmo por um grupo de amigos, que afinavam seus instrumentos e ditavam o ritmo da dança. O banquete da sexta, sábado e domingo era de graça e a renda da festa só era garantida pela venda da bebida. A comunidade trabalhava o ano todo para receber com muita animação e chopp qualquer um que chegasse à festa.

Os Futuristas de Ijuí fez história no sul do Brasil, sua primeira formação foi em 1959 e a fama da orquestra ultrapassou gerações. Hoje com 51 anos já gravou 24 LPs e 4 CDs. Neiva Machado lemos, 65 anos, que aos seus dezessete morava na região próxima a Cândido Godói, lembra sua juventude, afirmando que os futuristas de Ijuí era “o show dos bailes de kerb’s”.


Contracapa do disco Os Futuristas - vol. 4 que tráz o título dos 13 primeiros lançamentos da banda.


Dona Neiva não esquece o som do bandonion, usado pela banda,  O bandonion foi inventado pelo músico alemão Heinrich Band, e trazido para o Brasil pelos imigrantes alemães no início do século XX. Na argentina esse instrumento é muito usado nas orquestras de tango.

Ao escutar a música, quilômetro 11 executada pelos Futuristas de Ijuí, é possível reconstituir as lembranças gravadas na mente de Dona Neiva. O baixo acústico os metais e o bandoneón harmonizados num estilo inconfundível, capaz de ilustrar a cena dos casais bailando e se perdendo na escuridão. Quilometro 11 é uma composição de Mario Del Tránsito Cocomarola, músico e folclorista argentino considerado o pai do Chamamé.

O baile reunia ingredientes para um caldeirão que engrossava o caldo da miscigenação racial. Ponto de encontro entre moças e rapazes. Nas danças de salão se uniam, iniciavam namoro e constituíam as famílias que habitam o sul brasileiro.

O repertório dos músicos recebia influências de suas raízes, mas também do rádio. Os músicos da orquestra Montanari, fundada em 1958, mantinham um programa de rádio e escreviam o início de sua história tocando nas festas germânicas da zona rural de Concórdia Santa Catarina.

Nadir Antonio Montanari, integrante da banda desde 1969, conta que ao contrario do que se pensa, não eram executadas só músicas germânicas. “No passado podíamos tocar bolero, baião, tango, mambo, rumba, valsa, músicas mais lentas, outras mais animadas, que o pessoal dançava, muito diferente de hoje em dia”

É claro que as bandas tocavam as marchas típicas da cultura germânica, e convidavam para mais um chopp, porém numa região com tantas influências, diversificar o repertório era a regra principal. Afinal, os músicos deviam garantir os três dias de festa com muita animação.

André Luiz Bonomini cronista da cidade de Blumenau afirma que os Montanari tocavam “absolutamente de tudo, do rock ao germânico, do sertanejo ao mexicano, valsa e seus derivados, marchinhas, enfim, todos os ritmos de um modo geral”. Segundo Luiz essa variedade de ritmos que garantiam o sucesso nos bailes.

O primeiro disco da banda foi gravado em 1969 pelo selo Alvorada da gravadora Chantecler de São Paulo. Alcançando um sonho difícil, pois a produção fonográfica estava concentrada nas capitais do país.

Mais do que uma escola, o baile era um laboratório em que se adaptavam os ritmos ao modo de dançar dos germânicos, italianos, poloneses, enfim dos colonizadores do sul. Mais importante do que a fidelidade as raízes e a cultura, era executar a musica com ritmo adaptado aos limites dos instrumentos e dos meios técnicos sem perder a alegria da música.

Nos anos setenta outras bandas se formaram e ganharam, até mesmo, o reconhecimento nacional. Uma das mais representativas foi Os Atuais da cidade de Tucunduva Rio Grande do Sul, emplacou nas rádios “Morena de 15 anos”.

Da orquestra à banda

Música que antes do rádio, já embalava os casais nos bailes, fazia parte do repertório da Orquestra Montanari. Os Atuais arranjaram a música conforme as influências comerciais da época e morena de quinze anos ganhou voz, abrindo caminho para outras músicas num estilo peculiar que ganhou popularidade no rádio.

Na mesma veia sonora os atuais emplacaram varias sucessos: “fim de semana”, “Alice”, “sem amor ninguém vive”, “de segunda a domingo”, “40 grados”, “amada minha”, “a 150 por minuto” músicas que foram acolhidas pela população e garantiu uma trajetória de sucesso comercial para Os Atuais.

Para os músicos, o baile era a inspiração. Para o povo, o ponto de encontro nos finais de semana. O resultado é percebido nas letras que versam sobre tramas amorosas, o despertar das paixões, os temas de traição, a cerveja, o gosto do batom usado pela ruiva, loira ou morena, o casamento, a filharada e “traz mais um chopp”, é claro!

A relação do músico com o baile, fazia dele um artista e um escravo. A mesma vertente que criava, servia de prisão. Tirar as pessoas do estado de inércia e levar para o meio do salão, constituía sua principal arte, e até hoje é assim.

O segredo do sucesso estava no compasso simplificado, adaptado ao modo de dançar de cada região. Temas banais, ritmo fácil, alegre e vibrante, onde aconteciam as festas de origem germânica. Estilo musical que recebeu o rótulo de “bandinha”, e até hoje, mesmo com fortes influências, inclusive do pop internacional, tem espaço garantido nas festas e nas rádios.

Já dissemos adeus o primeiro sucesso comercial de Flavio Dalcin, cantor e compositor que ganhou destaque, a partir dos anos 80, nos três estados do sul. Tornou-se referência do gênero musical e cresceu espiando os bailes em que tocavam Os Atuais, Os Montanari e também, escutando Gildo de Freitas e Teixeirinha. As influências musicais vinham da sua profissão, radialista, do seu pai descendente de italianos e a mãe de origem espanhola. Cantava com os parentes paternos nos porões das casas, e observava seu o avô materno executar instrumentos musicais para animar as festas da região serrana do rio grande do sul.

Já dissemos adeus música composta e arranjada para o público do rádio. Mas os discos das bandas que surgiam neste movimento, inclusive da banda Corpo e Alma, em que Flávio Dalcin iniciou sua carreira musical, sempre traziam faixas que primavam pela simplicidade das marchas (polcas). Agora letradas e a mesma vibração das festas de kerb’s. A música das orquestras ganhava os rádios na voz de cantores e tocadas por bandas. Fenômeno que originou o rótulo de “bandinha”.

Na opinião do Flávio Dalcin, antes de ser uma música de raiz tradicionalista ela é popular. O músico, há 27 anos nos palcos, complementa afirmando que é só tocar músicas como Barril de choop que “o baile come”. Mesmo que já “esteja morto”.

Novela das oito, cartinha linda, vida boa, foram outros sucessos da banda corpo e alma na voz de Flávio. Depois deste período, o músico marcou passagem pelas bandas Sangue Latino, Terceira Dimensão, e atualmente faz parte de um projeto chamado Flavio Dalcin e banda ouro. Outras musicas populares do artista foram: genro bom, vou pra Santa Catarina, padre, coração aventureiro, arrume a sacristia, e só para resumir, Maria chá, chá, chá.



A “bandinha” ao longo dos anos incorporou influências, mas continua animando os bailes que acontecem no mesmo local, no salão paroquial, logo atrás da igreja. Não são três dias de festa, mas são muitas bandas que animam as noites de sábado ou as tardes de domingo. A galera manda um scraps no Orkut e dançam ao som do beijo de tutti frutti. O gosto de brilho labial não só é tema de música, como também revela o público atual destes bailes, muitos jovens que não choram mais as mágoas dos romances desfeitos, mas sim, querem beijar muito.

No meio de um ginásio ou salão da paróquia cantam em alto e bom tom os rits do momento e extravasam acompanhados de quase 20.000 Wats RMS de som. Na letra das músicas ninguém é de ninguém, a fila anda, deixa a tristeza de lado e vamos fazer festa.

Se perguntar aos músicos que animam os bailes atualmente. O que a música deles tem que as outras não têm? A maioria responderá num tom de surpresa e dúvida. Boa pergunta...

São músicos que, no baile e nos discos, não se preocuparam em definir um estilo musical arraigado a tradições e raízes, não tem um rótulo comercial forte. Mesmo assim, o baile perpetuou o estilo que a partir da metade dos anos 80 alavancou a carreira de uma série de bandas. Algumas como; Banda San Marino (1986), Musical San Francisco (1985), Musical JM (1990), Passarela (1995), Danúbio Azul (1979 / 1985), Brilha Som (2004), que são referências no estilo.

Anos de subordinação ao gosto popular, fez da “bandinha”, uma música odiada por uns e amada por outros, e só nos anos 90 foi possível encontrar a formula para impulsionar o movimento.Em 1997 a banda Corpo e Alma em parceria com a gravadora Faixa Nobre, lançam o disco volume 14, que traz a faixa “aquela dos olhos negros”. Vende 45.000 cópias com uma regravação do grupo Sparx, composto por 4 mexicanas. O ritmo da música é a katchaka muito popular nos países latinos como o México e no Paraguai, o sucesso nas rádios e nos bailes com essa música deu o título, ao Corpo e Alma de “banda katchakeira”. Segundo Airton Maumann Reichert, músico e empresário, foi numa viagem da banda ao Paraguai que escutaram pela primeira vez a música, depois de algumas restrições da gravadora, foi incluída no disco e até hoje é lembrada e tocada nas apresentações da banda.

Na metade dos anos noventa a tecnologia digital viabilizou a instalação de pequenos estúdios de gravação no interior do estado, ao mesmo tempo, a popularização da comunicação pela internet permitiu fácil e rápida interação com as rádios. Surgiram também, os sistemas de rádio difusão comunitária com programação popular e ênfase no contexto local. Logo o palco estava montado. E o segundo tempo do baile pronto para começar.

O segundo tempo do baile

Nos bailes músicos profissionais de diversas escolas. Influenciados pelo rock de Chuck Berry, pela viagem do Pink Floyd, inspirados pelos dinossauros do rock Brasileiro dos anos 80, e é claro, muita musica pop dos anos 2000. Tudo isso sem esquecer que “a “bandinha” está em território gaúcho, onde a gaita ronca grosso e a peonada numa marca bem largada dança uma vaneira.


Embora, a música receba todo tipo de influência mantêm um estilo próprio, pois obedece à lógica da festa, mantém os metais o compasso simplificado a fim de favorecer a assimilação para a dança. Nos discos, além das composições próprias, regravações de músicas do pop nacional engrossam ainda mais o caldo da cultura musical contemporânea. Já foram gravadas no estilo: pintura íntima que se consagrou na interpretação do Kid Abelha, nunca mais voltar da extinta banda gaúcha TNT, a força do amor do Roupa Nova, só você música interpretada por Fábio Junior e segue um repertório que esquenta o caldeirão da cultura.

Vocalista da Banda Legal - Joél José Antes
Joél José Antes, vocalista da banda Legal, faz um comparativo com as músicas executadas e gravadas no passado. “Antigamente muitas bandas de baile executavam uma música feijão com arroz, com uma guitarra reta, ‘bateria com pedal manco’, o sopro em dueto e um ritmo mais lento”. Hoje as faixas dos CDs são executadas a mais de 145 bpm , recebem as características pessoais de cada músico que contribui com arranjos mais elaborados, além disso, são arranjadas com naipe completo de metais.

Uma pesquisa na internet proporciona conhecer e identificar mais de 170 bandas do gênero. A concorrência pelo mercado do entretenimento obrigou às bandas tradicionais a profissionalização. Músicos mais experientes deixaram os palcos e passaram a atuar como empresários. Hoje as bandas são constituídas como empresas, todas com sede própria, estúdio para ensaio, a maioria trabalha na produção de seus discos e DVDs de modo independente.

Os donos da banda

Os músicos são funcionários e o cachê faz parte de um acordo entre o dono da banda e o artista. É isso mesmo, o dono da banda. Em geral os bailes são animados por músicos que vendem seu trabalho por um salário fixo, tocam em até quatro cidades diferentes no mesmo dia. Parece impossível, mas é isso que acontece.

Para aumentar o valor simbólico do baile, os empresários estabelecem parcerias em que uma banda se responsabiliza pela estrutura técnica que receberá duas, três e até quatro bandas no mesmo baile. Cada participante do esquema obedece a um cronograma de horários, tocando em média uma hora em cada cidade. Sistema que aumenta a capacidade de faturamento do empresário, atrai mais público pela diversificação das bandas e baixa o custo para os contratantes.

Ramires dos Santos há 10 anos toca em bailes, com passagens pela banda Musical Dallas (1997), banda Silver Som (1990) e atualmente na Estrela Dalva (1970) afirma que “a agenda é corrida” em média são 4 promoções por semana e o deslocamento entre um baile e outro, além do cansaço físico, exige do músico uma adaptação ao público.

Ramires completa em tom sorridente, mas sem brincadeira que o “Os donos da banda tem que faturar”. Ele afirma que para o promotor de um evento o custo da banda é alto, e por esse motivo é fechado um contrato em outra “ponta”, como é chamada esta prática na gíria dos organizadores.

Foto de divulgação do Musical San Francisco
O dono da banda disponibiliza ônibus e carretas que levam os equipamentos, veículos plotados com a foto pousada dos músicos, em cores atrativas que esbanjam o poder econômico. Veículos que fazem parte, além do patrimônio material da banda, do ativo simbólico para atrair público aos bailes.

Os músicos se deslocam de uma cidade para a outra em equipe numa vã ou ônibus, percorrem distâncias que podem variar de 50 a 200 quilômetros. Joel José Antes, confirmou que, no caso da banda Legal, até os instrumentos são do proprietário da banda. Viajam com ele 8 músicos, 5 técnicos e um motorista, ao todo, são 20 pessoas que trabalham na banda.

A maioridade musical

Para que a musica chegue às rádios e ao público, o movimento contrata empresas especializadas em distribuir os lançamentos pela internet, revistas com conteúdo específico, estúdios que fornecem acessória para produção gráfica e cuidam da imagem da banda, enfim, um sistema próprio de produção e difusão fonográfica.

Nos dias que antecedem as festas, em geral na sexta, sábado e domingo à tarde, é possível escutar pelas ruas de pequenas cidades, o carro de som que anuncia a festa. Nos alto-falantes ouve-se, intercalado com as musicas de trabalho “é neste final de semana” mais um trecho da música e torna a falar, “o tradicional baile da Linha Mundo Novo. Na animação 4 super bandas”

A voz do locutor convida para o baile. Nas vidraças das lojas e bares estão colados os cartazes com a foto das bandas anunciando a diversão. Na rádio local a inserção do anuncio e o sorteio dos ingressos. A banda não deixa de passar no studio para sortear CDs e anunciar seus projetos musicais.

Gravam independente de selos comerciais e vendem o CD casado com o ingresso que dá acesso aos bailes. Um sistema que permite alcançar os rótulos de CDs e DVDs de ouro e platina. De cidade em cidade participam de entrevistas em rádios, promovem seus discos e animam os bailes do final de semana. É assim que movimentam o mercado da música popular do sul do Brasil, divulgando uma música sem rótulo de venda.

Embora no meio musical o estilo não reconheça o rótulo de “bandinha” popularmente é assim chamado o gênero. Em suas composições é possível identificar elementos musicais que carregam as marcas regionais.
Enquanto músicos e produtores, na tentativa de ganhar o cenário nacional, incorporam elementos do forró, da musica sertaneja, do axé e outros ritmos populares da atualidade, não percebem que a sua música ganhou maturidade e independência, tem estilo e identidade suficiente para compor o cenário musical do Brasil.

Formada no laboratório dos bailes interioranos, no caldeirão da diversidade cultural. Uma história que partiu das orquestras que tocavam nas festas de kerb’s e passou para as bandas que animam os bailes semanais. Há mais de meio século o baile alimentou as composições num estilo vibrante e festivo.

Suas composições em ritmo de festa levam a alegria para o interior dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, regiões rurais com poucas opções de lazer e cultura. Contexto em que músicos e empresários se profissionalizaram na arte de conduzir às pessoas para a dança. Talvez por este motivo não aceitem o rótulo diminutivo chamado “bandinha”.

Reportagem: Antonio Marcos Demeneghi.
marcos@materiaprima.brtdata.com.br
Orientação: Carlos André Echenique Dominguez 

Realizada no período de abril a junho de 2010
As informações foram obtidas em entrevistas com músicos, produtores, radialistas e também na análise de arquivos musicais. Serviu de guia a experiência de observação na rádio local de Seberi RS. onde desenvolvo trabalhos de coordenação da programação musical.

Agradecimentos
Jair Souza – Locutor (radialista) da Rádio Comunitária de Seberi. RS.
Flávio Dalcim – Músico compositor e interprete (Flávio Dalcim e Banda Ouro RS.)
Jonas Demeneghi – Músico e produtor do Estúdio Coletânea de Santo Ângelo RS.
Neva Machado Lemos – Residente em Santo Ângelo RS.
Ramires dos Santos – Compositor, músico e interprete da banda Estrela Dalva (SC).
Joel José Antes - Vocalista da banda Legal (RS)
Mauro Frizzo - Tecladista da banda Legal (RS)
Falk, Nerci Adelar Falk - Empresário da banda Os Montanari (SC).
Airton Maumann Reichert – Músico, empresário e um dos fundadores da banda Corpo e Alma (RS)
Rudimar – Vocalista e empresário da banca Cia. Renascer (RS)

Leia de cabo a rabo e saiba tudo sobre as marchas turcas

Quer conhecer mais sobre as bandas militares, filarmônicas e os dobrados? Selecionamos 2 links para você ler de "cabo a rabo".


 

  • "Alla turca". Nesse link você encontra uma abordagem rica em detalhes sobre a marcha turca. Trabalho do estudante de doutorado da Universidade de São Paulo, especializado em línguas clássicas, Bruno Gripp. 

30 de out. de 2010

Para ler e olhar... "Festa na Roça" regada a cerveja e abençoada pelo pastor



A Oktoberfest de Doutor Maurício Cardoso é realizada desde o ano de 1986. A festa dura entre 4 e 6 dias e movimenta o município, as ruas ficam lotadas e o comércio todo gira em torno das expectativas da festa. Em todas as edições, a abertura da Oktoberfest é realizada com um Culto na Igreja. Ao longo dos dias de festa são feitas apresentações artísticas e bailes. No sábado a tarde é realizado o jogo do Barril no qual os times, a cada gol marcado, tem direito a uma rodada de Chopp, já o time que leva os gols tem que consumir torresmo para ficar com mais sede, e assim tentar, de todas as maneiras, marcar gols. Desde sua primeira edição, em 1986, uma coisa permanece igual: a Frida, Claci Saueressig.

Sede da banda Cosmo Express


Na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, na cidade de Iraí, a repórter Luara Krasnievicz realizou a cobertura fotográfica da sede da banda Cosmo Express. A repórter também conversou com integrantes da banda, fundada há 23 anos e composta por membros de uma mesma família. A banda é conhecida pelo apelido “Os Meninos de Ouro”. Depois de 9 discos gravados a Cosmo Express pretende gravar seu primeiro DVD no ano de 2011.

Luara Krasnievicz descobriu a relação da dança com a árvore

Ouça a explicação da professora de dança e mestre em educação física, Carlise Olchowsky, que relaciona a música com a cultura. A entrevista é um trabalho da repórter Luara Krasnievicz e foi disponibilizada na íntegra.

26 de out. de 2010

Conheça o "Clube de Pedra Show", o clube do barba!



A repórter Aline Vogt realizou a cobertura fotográfica de um baile no “Clube de Pedra Show” de Erechim, no norte do estado. As fotos foram tiradas no sábado, 2 de outubro e a banda que animava a festa era “Portal do Sul”, de Concórdia - SC. No “segundo bailão do mil”, todos recebiam um número na entrada, para concorrer ao sorteio de quatro parcelas de R$ 250,00 durante o baile.


24 de out. de 2010

Expoijuí e Fenadi estão em nosso álbum de fotografias




O encontro com o músico Breno Schneider foi no parque de exposições da Expoijuí e Fenadi - Feira Nacional da Diversidade. Local onde a banda Eickhoff e Os Futuristas instalavam equipamentos de palco para animar a festa alemã. Nas fotos você vê a carreta que guardava parte do chopp que seria consumido na casa de cultura alemã "Blumen Garten".